Vento.
Quando saí de casa às 14:14, em t-shirt, atrasado para apanhar o autocarro das 14:18 estava sol.
Mas também estava vento.
"Que se lixe" não ia voltar atrás para levar um casaco e andar com ele ao ombro, até porque estava sol. E vento.
"Não há-de estar pior quando voltar para casa"
Saído da Farmácia para ir até ao ginásio, sol? Nem vê-lo. Só nuvens. E vento.
"Vá, é só até ao ginásio"
Enquanto corria na passadeira olhava para o relvado de futebol em frente ao HP. Coelhos, muitos. Não fazia ideia de que viviam tantos naqueles arbustos fustigados pelo vento.
"Vai ser bonito quando sair daqui"
20:55, caminhando para a paragem para esperar por um autocarro que só chegaria às 21:15, com sorte, o vento trazia já o frio do anoitecer. Um frio que me fazia comprimir os braços contra o tronco para aquecerem.
Como era de esperar, o autocarro estava atrasado. Os 30 minutos na paragem, ao sabor do vento, pareceram uma eternidade.
Não sei que músicas passaram no iPod, não sei quantos carros passaram por mim.
Naquele período de tempo só existia eu, o céu e o vento. Um vento frio que arrastava as nuvens escuras e as separava umas das outras. E depois? Depois dissipavam-se. Tornavam-se invisíveis ao olho nú.
Os zíliões de gotículas de água condensada eram arrastados pelo vento para o desconhecido, fazendo esquecer que alguma vez existiram.
Uma estranha comparação irónica ao ser humano.
Naquele momento, naquele espaço, debaixo da luz de um candeeiro que se acendia sobre mim e dos faróis dos carros que passavam seguramente a mais de 50 km/h, senti o vento forte bater-me na cara, nos braços, no corpo.
Pedi-lhe que arrastasse os pensamentos que me assolaram a cabeça durante aqueles instantes.
Mas não o fez.
O vento frio do anoitecer é matreiro. Não faz com os pensamentos o mesmo que faz com as nuvens.
Casa. Quarto. Refúgio.
Aqui não há vento frio que incomode.
Apenas os pensamentos que ele me trouxe. E agora, quem é que os arrasta daqui?
O Rapaz Moreno