Por mais que exista o conforto, o rádio, o ar-condicionado, a descontracção, continuo a ser apologista dos passeios a pé. Mesmo que esses passeios sejam simplesmente faculdade/trabalho-casa.
Que eu tenho graves problemas e gosto de frio, já não é novidade.
Num dia como o de hoje, a coisa que mais me apeteceu (e com muita pena não pude concretizar sob pena de ir para casa com os bolsos mais leves) foi sair da faculdade e atravessar o frio até à estação de Entrecampos. Um ritual que cumpri várias vezes, em tempos mais soturnos à luz do final de tarde... Mas o de hoje, apesar de faltar a tristeza habitual, tinha um ingrediente especial que gritava por mim e me fascinava: o nevoeiro. Sair pela porta e sentir a névoa fria bater na cara, entrar nos pulmões...
O nevoeiro é um fenómeno estranhamente fascinante. Não existem pessoas, apenas vultos que se movem. Não sabemos se na nossa direcção ou se fogem de nós. E para elas, somos também um vulto. Uma alma com um destino e um propósito que mais ninguém conhece.
Está frio, andamos depressa, passadas largas.
Enfrentamos o desconhecido sem saber o que ele nos traz.
Algo que nos liberte e ajude a atravessar essa dimensão transbordante de vazio.
O que nos espera no outro lado?
O Rapaz Moreno